thoughts from places: A Vila dos Bancários

(Thoughts from Places é uma categoria de vídeos do Vlogsbrothers, recomendo forte que vocês deem uma olhada nesse canal e especialmente, nessa playlist.)




  
Desde outubro, o Interact Club (que faço parte) arrecadou, limpo, consertou e embrulhou brinquedos doados para que fossem presentes de Natal das crianças da Vila dos Bancários, o bairro mais pobre da cidade. Ontem a gente foi nas casas entregá-los e pensei umas coisinhas:

  • A gente, classe média, tem muito medo de pobre. Talvez eu seja ingênua e não digo que precaução seja bobagem, mas me assustei quando minha mãe mandou que eu prendesse meu cabelo, porque as crianças com certeza têm piolho. Ou então que algumas pessoas que foram comigo se sentissem extremamente inseguras com seus celulares só por estarem lá.
  • Houve essa casa, logo no começo, ela era feia, feia, feia, mal construída, um pouco torta, sem reboco, sem pintura. A mãe abriu a porta, seus dentes eram tortos, o cabelo desgrenhado, tinha uma barriga grande e os braços finos, como um doente, e o pai (havia um pai!) apareceu por trás, com botinas sujas de terra e barba pra fazer. Ela deu um quase sorriso ao nos ver e foi buscar a criança. E o garoto era tão lindo, tirou suspiros de todo mundo. Devia ter menos de um ano, branquinho como eu, com cabelos loiros penteados de lado, olhos azuis como você espera que suecos tenham. Foi tão surreal. Aquele menino era a personificação da nobreza, sabe? Tudo que você espera de um filho de madame, daria um homem lindo. E ele estava naquele lugar, que era o oposto da nobreza. E isso acontece porque pobreza foi criado pelo homem, sabe? Você já sabe disso, mas é bom repetir: nós que nos dividimos. A natureza ignora tanto isso que ali estava menino, beleza de nascença, na feiúra que nós criamos.
  • O pobre é invisível. As ruas daquele bairro são estreitíssimas, mal feitas, não tem calçada, não tem postes. Até a igreja do bairro é horrível, suja, com infiltração nas paredes. Os italianos da renascença acreditavam na arquitetura como um potencializador de orgulho: os prédios, as praças, as fontes de Veneza e Gênova são lindas porque aqueles homens perceberam que, se o lugar público for belo, então as pessoas ficarão felizes de pertencerem àquelas cidades. Por que a prefeitura de Ibitinga não conserta as ruas da Vila dos Bancários? Por que ela não disponibiliza um engenheiro que, ao menos, ajude as pessoas a construírem casas retas, com fundição e teto? Porque eles são invisíveis, ninguém vive lá.
  • O pobre não tem murros. A Vila dos Bancários foi o bairro com mais vida que já conheci. As pessoas se sentam em frente suas casas e conversam com os vizinhos! Vocês não queriam ter isso? No montanhês, o bairro mais rico da cidade, os murros são tão altos, as câmeras de vigilância são tão potentes, as grades tão grossas. Por que nos prendemos? Por que nos isolamos? 

Comentários

  1. Meu Deus, olha essa última foto. Olha esse sorrisão! Quanta felicidade, né? Que coisa boa essa que vocês fizeram. Parabéns pela atitude.
    Beijo!

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