Seja uma pessoa legal pra alguem hoje

Conheci o Henrique logo depois de me mudar pra Ibitinga, a cidade que estou morando agora. Mas o tipo dele não me era — infelizmente — novidade, nem pra você deve ser. O Henrique é aquele cara que tem uma opinião bem alta sobre si mesmo. Isso não tem nenhum problema, auto estima baixa é um mal que não desejo nem ao meu pior inimigo. Mas acontece que o Henrique, pra  deixar claro como se ama, tem costume de desprezar as outras pessoas. Ele confunde sinceridade com ofensa, sabe? Aquela pessoa que depois de fazer um comentário totalmente desnecessário e ignorante, pede “desculpas”, alegando que é sincero, não consegue lidar com falsidade. O Henrique não entende que ser sincero não automaticamente implica em ser rude com toda pessoa que não lhe agrada, mas que respeito e educação não passam nem do necessário. Ou melhor, Henrique sabe muito bem disso, mas ele acha que ser um babaca é cool. Desculpa Henrique, ser babaca é só babaca.

Em casos, isso só passa de uma crise de pré-adolescência. Eu mesma, tive a minha. Por uns meses, o mau humor era quase uma questão de orgulho, e quando ele incomodava os outros, eu estava no lucro: era apenas uma demonstração de como eu era superior. Você sabe, quando a gente tem 13 anos, como ninguém jamais nos entenderá e tampouco seremos amados do jeito que queremos, é reconfortante acreditar que isso é assim porque somos peças de arte complicadíssimas, imensamente superiores à essas pessoas comuns. Graças a deus, essas bobagens foram embora da minha cabeça e hoje aprendi três lições que o mundo deveria conhecer, então Henrique, querido, presta atenção: 1. Não existe essa história de pessoas comuns x pessoas especiais; 2. Eu posso ter gostos e opiniões bem diferentes de alguém e isso não me torna melhor ou pior que ninguém; 3. Grosseria e mau humor gratuitos não são os melhores jeitos de fazer as pessoas gostarem de mim.

Só que por incrível que pareça, tem gente que chega aos 17, 20, 40 anos e ainda não percebe essas coisas. Elas estão por aí, se empenhando duramente em deixar o dia dos outros pior. E por mais que eu acredite que desejar o mal é trazer ele mais pra perto, esse tipo de gente me tira tão profundamente do sério que, no fundo, espero que eles próprios percebam como são babacas no fim da noite e que bata aquela bad pesada o suficiente pra fazê-los mudar, ao menos, alguma coisinha.

Falei tudo isso,  mas o meu recado pra vocês tem a ver com outras pessoas. As pessoas legais. Hoje estava tendo um dia daqueles que não são horríveis, mas que as circunstâncias acabam o piorando drasticamente até que você se rende, olha no espelho e admite que não foi nada bom. Eu já tinha até passado da fase de aceitação do fracasso que foi essa segunda-feira, quando recebi uma mensagem com uma dessas gentilezas doces que deixam um sorriso no rosto. No meu caso, deixou até lágrimas tímidas nos olhos. Veio de uma pessoa que é o claro oposto de gente babaca, conheci aqui em Ibitinga também. Então “As pessoas são flores finalmente” fez sentido.

Vinícius de Moraes disse que a vida é a arte do encontro, mesmo que haja tanto desencontro no mundo. Se o poeta permite, a vida é a gentileza, mesmo que haja tanta gente rude no mundo. Perdoe-me a inocência, mas acredito que as pessoas são todas boas e gentis no fundo, o único problema é que eles não entendem muito bem como lidar com essas sensações e acabam se atrapalhando. Dizem por aí que ser legal com eles é o melhor caminho para mostrar-lhes como se faz. É difícil, eu sei, a vontade que dá é socá-los até que peçam desculpas. Estou falando com você, mas isso é um recado para que eu mesma não perca a paciência. Lembra daquele comercial da coca-cola que fala que as pessoas boas são a maioria? São mesmo. E se não tiver nenhuma perto de você, seja você mesmo uma.

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